Páginas

sábado, 10 de dezembro de 2022

um ano

Há dias encontrei um texto, que escrevi no meu diário, datado de 20 e poucos de Novembro de 2021. Encontrei-o porque tinha tirado uma fotografia com o meu telemóvel, para depois o ler à minha melhor amiga, e apareceu na minha aplicação de "memórias". O tema do texto ainda ressoa muito em mim passado um ano, pois, sem o saber, quase que marcava o "início do ano" daquela situação específica da minha vida. Dessa forma, passado um ano o tema continua o mesmo, embora com nuances diferentes.

Ver-me confrontada com as minhas palavras de há um ano obrigou-me a pensar no seguinte: daqui a um ano, quero estar na mesma situação? Não. Então tenho perante mim mesma esta timeframe de um ano para resolver o assunto pendente. Resolver... vá, ter outra abordagem, digamos antes assim. Mas hoje não é para escrever sobre isso.

Todo este preâmbulo serve para vir aqui falar um bocadinho sobre estes conceitos de "há um ano" e "daqui a um ano". Durante a minha crise de desemprego, eu e a minha tal melhor amiga - a Margarida - conversámos sobre este tema e de como nos parecia surreal as histórias das pessoas cuja vida muda tanto num ano. Mas pergunto-me: será que nos parece assim tão surreal porque estamos focados para pensar que a vida tem de mudar radicalmente de Dezembro de ano X para Janeiro de ano Y? Curiosamente ela também falou disso neste episódio do nosso podcast.

A verdade é que, por muito cliché fatela que isto seja, a vida é o que fazemos todos os dias. E, por muito romântica que seja a ideia de uma mudança radical quase de um dia para o outro, a minha experiência deste ano mostrou-me que as mudanças de um ano levam tempo. Levam todos os dias de todos os 12 meses em que as estamos a viver.

Há um ano, em Dezembro de 2021, depois do pior Verão-Outono que já vivi em termos de saúde mental, desempregada, sem saber para onde me virar, esgotada, etc., passei num processo de recrutamento e estava, neste momento, em formação para depois iniciar funções em Janeiro. Tive meio dia de trabalho nas funções a sério e despedi-me antes da hora de almoço. Tinha voltado ao desemprego. O meu "ano de mudança" parecia que tinha empancado, novamente. Era Janeiro, o Ano Novo, Vida Nova a acontecer, e eu a voltar atrás. Enfim, decidi-me, por uma última vez, a assumir que estava sem trabalho e que, depois de fazer os 27 anos em Março, iria dedicar-me a procurar um trabalho que realmente me fizesse sentido ter.

Ontem estive no almoço de Natal do trabalho que arranjei duas semanas depois do meu aniversário. Há um ano estava numa formação a aprender mais sobre uma empresa que desprezo, hoje estava a divertir-me a comer e a beber com colegas que só apareceram na minha vida há pouco mais de seis meses. Há um ano temia olhar para o saldo da minha conta bancária com medo das consequências de não ter salário há tanto tempo, hoje - felizmente - consegui triplicar a minha poupança tendo em vista outros objectivos que estarão para chegar.

[Há um ano vivi um episódio familiar delicado, hoje essa situação está pacificada.]

Tudo isto foi de repente? Visto assim, em jeito de timelapse e reflexão de fim de ano, parece que sim. Vejam bem o que a minha vida mudou num ano! Mas não. Foi lento, vagaroso. Entrei no trabalho e, com receio de não gostar, pedi que o contrato fosse de 6 meses em vez do proposto de 1 ano. Dei por mim no Verão num espaço mental totalmente diferente, e ainda bem para mim. O que já tinha mudado do Verão passado para este! Veio o Outono, com uma sensação de paz e estabilidade que eu nunca tinha sentido antes. Dei por mim na festa de Natal da empresa, a olhar em volta, e a desejar realmente o que diz a frase barata dos brindes: que dali a um ano estivéssemos todos lá.

Então, quando deres por ti num ponto da tua vida que parece estagnado, em que não saibas para onde te virar, e estiveres com medo de pensar onde estarás "daqui a um ano" porque não há mudança nenhuma acontecer, lembra-te que as mudanças podem ser lentas. É dia a dia, semana a semana, mês a mês. Há contratempos. Vai com calma, tenta dar os passos que sentes serem os correctos mesmo que nunca antes tivesses pensado em tomá-los, e sê paciente contigo. Vais ver que olhas para trás e te espantas com o tanto que a tua vida afinal mudou num ano.

Sem comentários:

Enviar um comentário