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terça-feira, 22 de junho de 2021

Sobre sentir-me infeliz a fazer o que gosto

A dada altura, quando estava a meio do Inside, o novo especial do Bo Burnham, dei por mim irritada e frustrada com o que estava a ver. Um gajo está a ter a oportunidade de, durante um ano, estar a trabalhar num projecto pessoal, com algo de que gosta. E, mesmo assim, está triste, angustiado, deprimido, etc.

Até que fui obrigada a reconhecer que sentia isso porque EU me sentia assim. Também eu estou há um ano a trabalhar num projecto pessoal, com algo de que eu gosto. E, mesmo assim, não estou bem. Passado um ano e uns meses, não estou bem com a minha vida.

Ou melhor, sejamos sinceros, eu estou bem no sentido em que tenho saúde e tive a oportunidade de ter esta “pausa”. Sinto que aproveitei bem o tempo para descansar, pôr o sono em dia, e estar mais no momento presente. Mas chega uma altura em que temos de nos confrontar com a nossa realidade.

O meu projecto não está a ser rentável o suficiente para eu me manter assim a tempo inteiro por muito mais tempo. Para sermos completamente honestos, estou a conseguir fazer um pocket money que sabe bem receber. Mas não estou a fazer poupanças nem a conseguir ter um fluxo suficiente para até ponderar abrir actividade nas finanças. Estou numa cepa torta em que tenho o que me basta para o dia-a-dia, embora não consiga ter planos a longo-prazo.

E isto veio bater-me com mais uma série de questões: quais são os meus objectivos, realmente? Como é que eu lido com a noção de trabalho? Onde estão as minhas ambições? Pois quer seja Astrologia, bolos por encomenda, ou outro serviço qualquer, quando se tenta empreender, tem de se ter uma força anímica para lutar pelo negócio. E eu… não tenho. Por muito que lute contra isso, a verdade é que não faz parte de mim estar sempre com o olho virado para o negócio.

Não quero passar os meus dias a pensar em produzir conteúdo, em estar sempre em constante estratégia de lançamento, a rezar para que os meus serviços sejam adquiridos. Queria outra coisa. Queria poder desfrutar da minha Arte sem esta pressão. Ler os livros ao meu ritmo, descobrir o que gosto de fazer com este hobbie.

Ao mesmo tempo, preciso de ter em mente qual é o meu grande objectivo e ambição de vida: sair de casa e conseguir ter a minha independência financeira. Já sei que é comum na idade dos 20s sentirmos uma bomba relógio em cima da cabeça, só que também convém ir tentando resolvê-la. Eu quero sair de casa dos pais e experimentar o que é estar por minha conta, fazer a vida à minha maneira. Uau, que ambição desmedida de uma mulher de 26 anos. Então, olhando para a minha realidade, o que tenho feito em prol disso? Nada. Não me estou a culpar, estou a afirmar que não tenho feito nada para alcançar esse objectivo.

Tentar pôr a pressão da minha independência financeira no meu hobbie/projecto pessoal está a levar-me a um burnout. Não quero usar estes termos de forma leviana, mas é o que sinto quando estou a fugir ao trabalho que tenho em mãos. Isto porque, tendo consciência de que preciso de uma pausa do projecto, não me posso permitir a isso porque preciso de estar a trabalhar. E eu só quero desfrutar da minha Arte ao meu ritmo, lembram-se?

Sinto que estou num novo ponto de viragem de mentalidade. Eu sou assim, estou sempre em processos de descoberta internos e ganhei afeição por isso. Só preciso de arranjar um equilíbrio entre isso e a vida prática. Então, o meu sonho utópico, ambicioso e irrealista era encontrar um trabalho que não me canse a cabeça em excesso e que me permita poupar para a minha emancipação. Um trabalho que me trouxesse estabilidade mas sem comprometer a minha saúde mental. É demais estar a pedir isto?

Eu não sei onde é que a vida me vai levar, nem onde vou estar daqui a um mês, quanto mais daqui a seis, nove, um ano. Mas, se somos nós os responsáveis por criar a nossa realidade, quero ter a consciência tranquila de que estou a trabalhar para materializar os meus desejos. Quero acreditar que vou conseguir esse trabalho, vou ser competente e até vou ganhar afeição ao posto. Vou conseguir equilibrar as minhas prioridades e construir o meu mundo ao meu ritmo. Vou manter o meu hobbie e fazer o conteúdo que me apetece sem a pressão de ter de “vender”. Vou conseguir ter a minha casa e a minha vida.

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