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terça-feira, 5 de janeiro de 2021

a reflexão de ano novo que ninguém pediu

Olhem, não sei. Não sei porque é que estou a escrever este texto, acho que é porque simplesmente tinha saudades de escrever. De me conectar comigo mesma através de palavras partilhadas, mesmo que os leitores sejam escassos, que o tempo dos blogs tenha passado à história e que ninguém tenha paciência para ler posts grandes. Preciso de escrever para me libertar e ganhar perspectiva.

Mas não é só isso que eu não sei. A verdade é que eu não sei nada sobre coisa nenhuma. O que quero fazer da vida? Que direcção quero tomar? Para onde vou? O que quero construir? Que objectivos tenho? Não sei.

Em Abril do ano passado fiquei desempregada ao chegar ao término de um contrato que não se renovou. Estando eu infeliz a nível profissional desde que comecei a trabalhar, tenho o privilégio de poder dizer que perder este trabalho foi mais uma bênção. A pior parte de ficar desempregada em pleno ano de 2020 era ter de fingir aos outros que tinha sido um azar e que agora tudo ia ser muito complicado, e “vamos ver…”.

Vamos ver… porque não sei.

Aproveitei todas as desculpas e mais algumas para não ter de procurar um trabalho normal. Estávamos em plena pandemia, o mundo virou as regras, estava tudo do avesso. Paralelamente, agarrei-me ao meu projecto astrológico, que tinha começado a crescer a bom ritmo ainda em Março. Talvez esta fosse a minha solução mágica, finalmente o universo tinha respondido ao meu pedido de ter uns tempos de pausa, em suspenso de responsabilidades, para eu fazer crescer o meu projecto.

O problema que ninguém nos diz e só descobrimos no terreno é este: para um projecto pessoal singrar tens de ultrapassar muitas barreiras internas. As tuas inseguranças e bloqueios saltam todos ao de cima. Para ajudar à festa, eu própria reconheço que sou preguiçosa, não dou o melhor de mim, tenho muita pouca auto-disciplina e uma facilidade assustadora em desistir e abandonar as coisas a meio.

Não me interpretem mal, apesar disto tudo eu mantive-me fiel à minha página, consegui até tirar algum rendimento financeiro dali, e vivi um grande crescimento a nível pessoal. Lembro-me de, em Janeiro ou Fevereiro, andar a discutir comigo mesma a hipótese de dar consultas de astrologia, cheia de medo de não ser boa o suficiente. Cheguei ao final do ano a esgotar sempre as minhas vagas para a leitura do mapa. Isto é muito bom!

Só que não é excelente. E para conseguir viver do hobby, eu tenho de conseguir dar o salto de um trabalho muito bom para um excelente. Porém, mais uma vez, isso levanta outra série de problemas que nunca ninguém parece falar. Ou, pelo menos, só vejo isso a ser abordado agora. O problema de transformar o hobby num trabalho. Acontece que começas a associar-lhe as emoções negativas deste último, ao mesmo tempo que perdes a essência e a magia do primeiro.

Eu adoro Astrologia, acordo e deito-me a pensar nisto, é um verdadeiro mindset que só senti igual quando acabei a licenciatura e via (ainda vejo…) o mundo como o palco de toda a comunicação, publicidade e marketing que está constantemente a acontecer. Foi muito gratificante poder sustentar os meus parcos gastos graças ao meu trabalho como astróloga. Mas… cheguei aqui e estou cansada. Não sei o que fazer nem para onde me virar. Porque é que tenho sempre esta instabilidade dentro de mim? O que é que me falta para agarrar as coisas que amo com unhas e dentes?

Tenho uma teoria que diz que isto acontece porque eu nunca tive realmente de me esforçar para ter bons resultados. Sempre fui boa aluna sem ter a necessidade de ser a marrona. Tinha boas notas com um esforço mínimo, o que fez com que me contentasse assim, sem nunca trabalhar ou correr o extra mile para ser excelente. Na vida adulta e nas ambições pessoais, isto traduz-se em eu manter um fluxo contínuo de bom trabalho mas com resultados que ficam aquém das minhas expectativas.

Cheguei a Janeiro de 2021 com a maioria dos mapas astrais de Dezembro ainda por entregar. A minha cabeça está um caos, entre a bola de neve da procrastinação que estou a viver, e outros assuntos de foro mais particular que me estão a ocupar muito espaço emocional. Sinceramente, não quero ter outro ano de limbo. Sinto que preciso de tomar alguma decisão, meter rédeas na minha vida e ter um pouco de estrutura. A estagnação deve ser um motor de mudança, mas temos de nos pôr em movimento se queremos algo de diferente.

Não sei para onde vou nem como. Já pensei em diversos cenários, embora nenhum me apele particularmente. Sinto que trabalhar exclusivamente em comunicação e marketing já não é uma hipótese. Mas trabalhar na área… num organismo público? Seria uma hipótese? Teria essa sorte? Ou talvez devesse largar essa ideia, descer uns patamares, e ir para administrativa? Ou – quem sabe – e se fosse tirar um curso de cozinha? Sempre gostei de cozinhar mas nunca me permiti explorar isso. Será que devia voltar a trabalhar numa loja durante uns tempos? A máscara impede-me de ir por aqui, confesso. Então não sei.

Em meados de Setembro/Outubro tinha pensado para comigo mesma em fazer o compromisso de me dedicar a 100% ao meu projecto. O ano estava a acabar, e queria perceber se realmente conseguiria solidificar-me ali. Não correu mal, mas não consegui estabelecer nenhuma rotina nem nenhum método de trabalho que me desse entusiasmo para levantar de manhã. Entretanto, estamos em Janeiro outra vez. Não quero outro ano de limbo, mas se não sei que rumo tomar, talvez eu deva agarrar-me ao que já tenho como certo.

Este texto está trapalhão, fiel à minha confusão mental. Talvez tenha servido mais para me organizar e dar um boost de entusiasmo. Não está particularmente inspirador nem tem um final feliz nem uma lição de moral. Se chegaste até aqui, agradeço-te a paciência. Sei que não te esclareci nem dei nenhuma conclusão. O meu intuito era o de dar uma espécie de abraço, caso estejas a passar por uma situação similar, para perceberes que não estás só. Também estou no limbo, a sentir-se uma adolescente de 25 anos, quase 26. Sim, tenho medo do futuro e não, não sei o que vou fazer. Resta-me esperar que vá ficar tudo bem.

2 comentários:

  1. Ahh sim. O sentimento clássico de "Falling into the void". Não sabes o que queres nem tens energia para sequer pensar nisso (ou evitas). Vou falar na minha experiência que em alguns aspectos também é semelhante á tua: Acabei um curso numa faculdade de engenharia e entrei em depressão em 2020 porque n consegui arranjar emprego. Então decidi voltar a estudar algo que sempre gostei (uma licenciatura também na area de engenharia). Porque não o fiz antes? Acho que aos 18 anos tomamos decisões erradas sobre o que queremos seguir, sabemos tão pouco sobre nós mesmos e o mundo que alguns de nós tomam decisões ás cegas ... E depois deixei andar até que recebi o meu diploma o ano passado.

    Fast Forward, com a pandemia e a perspectiva de que isto n vai acabar tão cedo decidi usar este tempo para voltar a estudar. Custa muito porque sentes-te como se recomeçasses á estaca zero e depois claro que não tens tanta ligação com os teus colegas mais novos (especialmente, eu, uma gaja, em eng. informatica lmao). Custa muito imaginar as infinitas noitadas que terei de voltar a fazer e as pestanas que terei de queimar para realizar o meu novo sonho ... Fico muitas vezes em pânico só de pensar na gargântua montanha que me falta escalar. Depois vejo alguns dos meus colegas que entretanto lá conseguiram arranjar emprego e sinto-me atrasada na vida. Não sei bem como irei fazer isto até ao fim, mas lá vou arranjando forças, levando um dia de cada vez.

    O conselho que te dou é manter um journal (não para o teu blog, algo mais pessoal em que coloques lá tudo o que sentes e pensas no momento), no meu caso ajuda imenso a organizar as ideias e emoções. No fundo acho bastante natural o que sentes e tenho a certeza que não és a única (principalmente a parte de te sentires uma adolescente presa no corpo de alguém mais velho ahah). Quanto ao que queiras fazer como carreira, não poderei aconselhar-te porque tal depende apenas de ti. Mas quando decidires terás de agarrar-te com todas as tuas forças ao teu sonho e terás de encontrar maneiras para o realizar ... Sinto que quanto menos fazemos, menos queremos fazer e isto foi a maior lição de 2020 para mim. Ficas letárgica e depois sentes-te mal porque n fazes nada e depois como te sentes mal ficas deprimida e é um ciclo vicioso. Faz qualquer coisa e obriga-te a faze-la (eu sei isto custa imenso)..... Arranja uma rotina e tenta completá-la em tipo 1 semana ou 2. Ficar parada só vai agravar este teu sentimento de estar sem rumo. Mesmo que essa rotina não te dê grande entusiasmo, a ideia é fazer algo de forma sistemática para te dar algum objectivo a completar. Enfim, isto é um conselho meu tendo em conta o que experienciei ultimamente.

    Por mais que muitos de nós odeiem a rotina, 2020 apenas veio mostrar que precisamos dela para nos manter sãos e estáveis. Tenho saudades de me levantar de manhã, de ver o sol a nascer entre os prédios durante a minha viagem de autocarro, de apanhar o metro e levar com o ocasional crackhead em sete rios, de ouvir conversas alheias , de ver o sorriso dos meus amigos e de abraçar os meus avós quando chego a casa. Tudo isso me foi retirado e aguça este sentimento de vazio que tenho sentido. Todos nós precisamos de pequenas coisas como estas que estavam normalmente incluidas na rotina que agora temos de modificar perante a pandemia.

    Funny enough, encontrei este teu blog por acaso durante as minhas aventuras no twitter e a tua experiência tocou-me e tive mesmo de comentar ahah. Acabando aqui o meu comentário um pouco lamechas e desorganizado, deixo-te uma frase que me tem acompanhado nestes momentos mais recentes:

    “In the midst of winter, I found there was, within me, an invincible summer. And that makes me happy. For it says that no matter how hard the world pushes against me, within me, there's something stronger – something better, pushing right back.”

    Desejo-te sorte para o que quer que escolhas fazer. Espero que 2021 te traga o inicio da resposta que procuras. Um grande abraço virtual :)

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  2. also, tinha comentado á uns dias mas aparentemente n me parece ter sido enviado porque a minha internet maravilhosa da NOS falhou, portanto fica aqui uma segunda perspectiva talvez um pouco mais desenvolvida que a primeira vez que comentei

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