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sábado, 25 de novembro de 2023

Fechada para Balanço

TL:DR

Será cedo para declarar o ano como fechado? Novembro trouxe-me uma crise política do meu coração e já não estou para mais nada. Não quero pensar “no futuro”, nas decisões pela minha vida que tenho por tomar, estou sem cabeça para pensar em trabalho. Chuto para canto as contas de cabeça que faço antes de dormir, sobre que idade é que terei no ano X, e como vou estar nessa altura. Não quero começar coisas novas, partir à descoberta, desbravar mato. É Novembro. 2023 está por um fio, não vai ser agora que resolvo nada.

Quero ir à costura ter a última aula do ano e fazer umas calças. Planear noites de cinema para rever coisas com mais atenção e ver outras que há tanto tempo esperam por mim. Divertir-me com os colegas no jantar da empresa. Quero pensar nas prendas de Natal das minhas pessoas, ir ver as luzes e decorar a árvore. Rever o Diário da Bridget Jones, talvez chorar. Perguntar aos meus sobrinhos se querem chegar mais cedo, na consoada, para me ajudarem a fazer os brigadeiros.

Comecei 2023 esperançosa, embora já desiludida. Tentando-me enganar a mim própria que não ia ter o final que já sentia me estar destinado. Foi um ano em que me senti flutuante, sempre à espera de começar o que eu queria que começasse [e não começou], e, por isso, sinto que não o vivi. Flutuei por ele, passei-lhe pelos dias, semanas, meses, sempre à espera. E, nos entretantos, a sentir as perdas.


O último café que bebi na minha esplanada. Pacote de açúcar com mensagem enigmática.

Este ano perdi a minha esplanada, com o concessionário a mudar de vida e a deixar fechado o meu café de eleição. O sítio onde ia para escrever, pensar, passar os fins-de-semana na minha companhia. Acabou. O Pedro Teixeira da Mota lançou o último episódio do ask.tm, que tanta companhia me fazia. Acabou. Morreu o gato da infância da minha melhor amiga, uma das nossas gatas do quintal, e o cão vadio mascote da minha cidade. O meu oculista fechou a loja. Um abalo na minha família afectiva trocou-nos as voltas e acabou com as rotinas e dinâmicas que vínhamos a construir. Estes e tantos outros fins de que agora não me recordo passaram por mim, custaram, aceitei-os e segui em frente. Seria um pronúncio? Um omen que eu cegamente ignorava?

Pois então que acabou, também, a esperança - a pessoa de quem gostava não gostou de volta, está a seguir a vida. E o mundo desaba, o vazio chega, as perguntas brotam mas há uma que se destaca: no meio disto tudo, onde andei eu?

Onde andamos nós quando ficamos de forma cega à espera de quem não vem? O que nos passa ao lado? Quem sou eu e porque sou assim? Porque demorei tanto? Posso chamar isto de situationship se acabo a sentir, no final, que tudo só se passou na minha imaginação?

Vejo-me chegada aqui e confrontada apenas comigo própria porque a situação é a mesma de todas as que já passei, mais parecida numas coisas, totalmente diferente noutras. Páro para pensar na forma como lido com estes assuntos do coração, visto ser eu o denominador comum. Tenho algumas respostas e ainda mais perguntas, que não têm cabimento aqui.

Esta questão da Carrie assombra-me desde a adolescência.

Apesar do choque e daquele primeiro rebuliço de sentimentos, este final trouxe-me um certo alívio. Não fiquei destroçada, agarrada aos what if nem angustiada como noutros finais do passado. Percebi e aceitei.

Estou entusiasmada porque vai ser a primeira vez que ajo no mundo sem trazer comigo a sombra de um amor-imaginário e curiosa para perceber onde é que isto me leva. Que decisões de vida tomo, quando não estou a a decidir em prol da hipótese de um alguém? Como vivo os dia e de que forma estou no momento presente, quando não divido a minha presença com o sonho acordado do que eu gostaria que fosse real? Descobriremos.

Apesar de chegar a Novembro com a sensação angustiante de que perdi tempo, as coisas também não são bem assim, e preciso de ser mais justa comigo. Em 2023 continuei a ir ao Duolingo e completei o meu desafio do Goodreads. Pude ir ver o Jamie Cullum com a minha sobrinha. Fui à Escócia ter com os meus tios, fazendo um total de quatro viagens de avião sozinha. Finalmente ofereci-me uma ida à Dama de Copas e descobri a maravilha de ter soutiens que realmente me servem. Pintei um quadro com a minha melhor amiga. Comprei os meus brincos dos cravos. Fui de férias com os meus amigos e descobri sítios mágicos em Portugal. Vi filmes bons, descobri o Rohmer. Fiz progressos no Yoga e estou, ao meu ritmo, a perder o medo de fazer a invertida. Comecei, por fim, a aprender a coser à máquina no meu curso de costura.

Posso ter fantasiado a mais para o meu próprio bem e sentir que me deixei levar na espuma dos dias. Mas, no final de contas, tenho-me a mim, aos meus amigos, enfim, alguma família, tudo bases de suporte para me recordar de quem sou e o que valho.

Já passei por umas tantas “situações”, engates que ficam a meio, sentimentos que não são ditos, traições de confiança, confusões e mal-entendidos, e acabo por continuar a estar cá. Talvez por isso goste tanto desta da Amy e me acompanhe há tanto tempo. Seja aos 14, aos 20, aos 23, ou 28, as pessoas vão e as minhas lágrimas secam-se sozinhas. Estou cá.

Para o ano há mais.

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