Imagem do meu WeHeartIt |
Eu sou uma miúda gira. Pelo menos eu acho que sim, e isso é o que importa. Não há nada de objectivamente feio em mim, e gosto de acreditar que a minha personalidade e trejeitos ajudam no resto – para quem gostar do estilo. Claro, há uma diferença entre estar de eyeliner e batom vermelho ou de fato de treino e com o cabelo oleoso. O que me leva à premissa deste texto: sim, eu sou uma miúda gira. Mas uma miúda médio-gira.
As pessoas médio-giras caminham neste mundo sem que se destaquem dos demais. Não são feias, mas não estão dentro do padrão o suficiente para serem consideradas bonitas. Enquanto jovem médio-gira isto significa que as vizinhas me gabam, de forma maternal, a beleza. Mas nunca serei, aos olhos dos meus pares, uma estampa, nem “bue linda”, nem “um canhão”, ou outros adjetivos que se usam para classificar as outras, as giras-giras. Não sou a razão pela qual os olhos se viram quando entro numa sala nem ninguém fica nervoso por ter de falar comigo.
Curiosamente, navegar na adolescência e na jovem-adultez enquanto pessoa de beleza mediana traz algumas vantagens. O facto de nos integrarmos tão bem na paisagem faz com que não sejamos notados – o que, dito assim, soa trágico. Mas, por outro lado, há muita chatice que as miúdas giras-giras aturam e que nunca me fez mossa. Nunca tive de lidar com um rol de atrelados a tentarem-me engatar, não tenho (muitos) likes estranhos nas fotos do instagram vindos do nada; tweeto a merda que me apetece sem ter reply-guys a chatear; e todas as fotos de nudez que recebi foram porque eu quis.
Por outro lado… A minha adolescência foi um perfeito vazio de interesses românticos, o que, segundo aprendi no tiktok, nos deixa mazelas psicológicas (mas psicologia de tiktok fica para outro texto). Ok, vazio não. Estou a ser injusta. O que nos acontece a nós, as médio-giras, é que somos feias o suficiente para os feios acharem que têm hipótese. O drama, o horror, a tragédia. Quando dás por ti, a tua vida romântica é o vazio, polvilhada por aquilo que eu apelidei de um “coro underdog” de vez em quando. (Feios, por favor, não me cancelem. Eu sei que isto não está a ter muita graça, mas o meu tom é sempre humorístico e isto é só uma piada. Juro, Joca!)
O coro underdog é o indivíduo que não tem NADA a ver contigo, não é interessante, não cativa, não faz sentido atirar-se a ti, simplesmente não é um match… Mas como não és gira-gira, ele ainda assim tenta lançar o seu move. É válido, a vida segue. O pior está por vir.
Eventualmente acontece algo estranho na vida de uma médio-gira: há um giro-giro que parece andar aqui a rondar. E falam. E ficam amigos. Muito amigos. Tanto que as pessoas à volta notam e comentam, insinuando o que poderá haver ali. Mas não há nada. A média-gira e o giro-giro ficam amigos, muito amigos, mas SÓ amigos. Os anos passam e a relação vai desenvolvendo, com as tricas normais de adolescente. A dada altura, cansada de esperar pelo dia que não chega, a média-gira consegue libertar-se deste relacionamento unilateral. Tudo para o giro-giro, afinal, não largar do outro lado. Continuar a alimentar uma amizade que não existe nem faz grande sentido. E para quê?
Talvez seja falta de modéstia, mas sinto que, em casos assim, na verdade os giros-giros estão apaixonados pelas médias-giras e nem o sabem reconhecer. Porque, na sua cabeça, não faz sentido. Eles conseguem chegar à gira-gira, por isso não se vão ficar pela “feia”, era o que mais faltava. Vão, isso sim, alimentar uma dependência emocional sem sentido que vai magoar a outra parte. Tudo para um dia acordarem e ficarem nostálgicos a pensar na pessoa que se lhes escapou… Ou então não, quem sabe?
Em suma, é isto a vida de uma gaja médio-gira. Somos os camaleões da atracção, tudo depende do nosso estado de espírito. Quero que não me chateiem a cabeça? Deixo-me enfeiar ainda mais. Quero sentir os olhares espantados porque – aaah!... – afinal sou gira? Faço uma makeup e sigo com o meu dia. De vez em quando lá aturamos uns coros nada a ver, outras vezes conseguimos viver as nossas aventuras com quem nos interessa. O mundo segue em perfeita normalidade com a nossa beleza corriqueira. Se calhar nem sabemos a sorte que temos.
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