A bandeira do orgulho bissexual |
[Nota prévia: apesar de a bissexualidade se definir como atração pelo mesmo género e outros, para efeitos estilísticos vou referir-me muitas vezes a “homens e mulheres”. A mesma coisa com a sigla LGBTQIA+, que vou abreviar para LGBT.]
Apesar de existir um B na sigla LGBTQIA+, a verdade é que esse B costuma ser silencioso, incompreendido, menosprezado e invisível. Estamos em Junho, em mais um mês de Orgulho, e por isso quis falar um pouco do que é ser o Bê de LGBT de uma perspectiva muito pessoal.
O problema começa logo na auto-aceitação. Apesar de saber que, por alguma razão, toda a minha vida me senti atraída por mulheres, a verdade é que demorei mais de 20 anos até perceber que, se calhar, eu simplesmente não era heterossexual. Isto porque não cresces com referências, exceptuando o Shot at Love da Tila Tequila, ou então só se ouve os bitaites mais preconceituosos sobre pessoas bissexuais: são promíscuas, vão trair, vão trocar o parceiro por alguém de outro género, são homossexuais em segredo, são heterossexuais em segredo, “tudo o que vem à rede é peixe”, etc.
Mas pronto. Encontras a tua paz no assunto e segues a vida. Ao perceber que não és hetero, começas a entrar noutro espaço mental, emocional e até social. De repente sou obrigada a olhar para mim mesma através de uma nova identidade política que acarreta os seus próprios desafios. Ser bissexual é duplamente (ah!) desafiante, porque tens de combater preconceitos e fobias de toda a gente, de dentro e de fora da comunidade LGBT. É uma sexualidade difícil de ser compreendida por quem é monossexual e a projeção dos preconceitos é desgastante. Existe como que uma cobrança para “escolher” um lado porque é difícil aceitar que alguém se possa sentir atraído por mais do que um género.
Enquanto pessoa bissexual, vivo constantemente a duvidar da minha própria identidade. Isto porque, embora possa gostar de homens e mulheres, essa definição não me serve. Neste momento da minha vida, não me imagino a relacionar com mulheres. Calma! Já sei o que poderão estar a pensar, pois eu já pensei no mesmo: será bifobia internalizada? Não.
A verdade é que eu não me imagino a relacionar com mulheres… nem com homens. Porque eu só me queria relacionar com uma pessoa em específico. A pessoa de quem eu gosto. Quando calha ser um homem, é normal que o meu lado sáfico fique adormecido. Da mesma forma, quando gosto de uma mulher, não tenho absolutamente espaço mental nenhum para pensar em relacionar-me com homens.
Eu não sou bissexual porque gosto “de homens e mulheres”, mas sim porque gosto de quem eu gosto. E eu não gosto de qualquer pessoa, muito menos facilmente. Sou esquisita. Daí ser tão chato e aborrecido para mim explicar a quem vem de fora que sou uma pessoa LGBT, detesto a forma lata com que a minha atração é definida.
Cada vez percebo mais porque é que tantas pessoas bissexuais acabam por não se “descobrirem”, não se aceitarem, ou simplesmente deixarem de lado esta etiqueta e preferirem estar no espectro “no labels” ou “not straight”. É exaustiva esta vida de explicações e de cobranças, externas e internas.
Quantas vezes não dei por mim a pensar “se calhar sou lésbica e estava só a ser vítima de uma heterossexualidade compulsiva”. Depois, também penso “se calhar sou hetero e estou só a objectificar e fetichizar mulheres”. E a verdade é que sou apenas bissexual.
Talvez isto seja confuso porque estamos habituados a definir a atração tendo por base o género (e o sexo, vá) uns dos outros. No meu entender, mais do que géneros (e sexos), a atração acaba por ser pelas características que o outro tem e que, muitas vezes, se encontram em várias pessoas, independentemente do seu género. Mas claro, isto para mim é fácil de perceber, é tão natural compreender que possamos sentir-nos atraídos por qualquer pessoa, é exactamente o oposto das pessoas monossexuais, que têm dificuldade em conceber isto mesmo.
Eu sou bissexual, não porque gosto de homens e de mulheres, mas sim porque gosto de quem eu gosto. Seja mulher, homem, pessoa não-binária, ou de outros espectros da identidade de género.
PS: sim, estou a par que existe a “pansexualidade” mas, na minha humilde opinião, esta definição apareceu devido a bifobia, pelo que prefiro definir-me como bissexual. Também estou a par que existe o conceito “demissexual” mas, na minha humilde opinião, é um conceito estúpido e com o qual não me identifico.
Apesar de existir um B na sigla LGBTQIA+, a verdade é que esse B costuma ser silencioso, incompreendido, menosprezado e invisível. Estamos em Junho, em mais um mês de Orgulho, e por isso quis falar um pouco do que é ser o Bê de LGBT de uma perspectiva muito pessoal.
O problema começa logo na auto-aceitação. Apesar de saber que, por alguma razão, toda a minha vida me senti atraída por mulheres, a verdade é que demorei mais de 20 anos até perceber que, se calhar, eu simplesmente não era heterossexual. Isto porque não cresces com referências, exceptuando o Shot at Love da Tila Tequila, ou então só se ouve os bitaites mais preconceituosos sobre pessoas bissexuais: são promíscuas, vão trair, vão trocar o parceiro por alguém de outro género, são homossexuais em segredo, são heterossexuais em segredo, “tudo o que vem à rede é peixe”, etc.
Mas pronto. Encontras a tua paz no assunto e segues a vida. Ao perceber que não és hetero, começas a entrar noutro espaço mental, emocional e até social. De repente sou obrigada a olhar para mim mesma através de uma nova identidade política que acarreta os seus próprios desafios. Ser bissexual é duplamente (ah!) desafiante, porque tens de combater preconceitos e fobias de toda a gente, de dentro e de fora da comunidade LGBT. É uma sexualidade difícil de ser compreendida por quem é monossexual e a projeção dos preconceitos é desgastante. Existe como que uma cobrança para “escolher” um lado porque é difícil aceitar que alguém se possa sentir atraído por mais do que um género.
Enquanto pessoa bissexual, vivo constantemente a duvidar da minha própria identidade. Isto porque, embora possa gostar de homens e mulheres, essa definição não me serve. Neste momento da minha vida, não me imagino a relacionar com mulheres. Calma! Já sei o que poderão estar a pensar, pois eu já pensei no mesmo: será bifobia internalizada? Não.
A verdade é que eu não me imagino a relacionar com mulheres… nem com homens. Porque eu só me queria relacionar com uma pessoa em específico. A pessoa de quem eu gosto. Quando calha ser um homem, é normal que o meu lado sáfico fique adormecido. Da mesma forma, quando gosto de uma mulher, não tenho absolutamente espaço mental nenhum para pensar em relacionar-me com homens.
Eu não sou bissexual porque gosto “de homens e mulheres”, mas sim porque gosto de quem eu gosto. E eu não gosto de qualquer pessoa, muito menos facilmente. Sou esquisita. Daí ser tão chato e aborrecido para mim explicar a quem vem de fora que sou uma pessoa LGBT, detesto a forma lata com que a minha atração é definida.
Cada vez percebo mais porque é que tantas pessoas bissexuais acabam por não se “descobrirem”, não se aceitarem, ou simplesmente deixarem de lado esta etiqueta e preferirem estar no espectro “no labels” ou “not straight”. É exaustiva esta vida de explicações e de cobranças, externas e internas.
Quantas vezes não dei por mim a pensar “se calhar sou lésbica e estava só a ser vítima de uma heterossexualidade compulsiva”. Depois, também penso “se calhar sou hetero e estou só a objectificar e fetichizar mulheres”. E a verdade é que sou apenas bissexual.
Talvez isto seja confuso porque estamos habituados a definir a atração tendo por base o género (e o sexo, vá) uns dos outros. No meu entender, mais do que géneros (e sexos), a atração acaba por ser pelas características que o outro tem e que, muitas vezes, se encontram em várias pessoas, independentemente do seu género. Mas claro, isto para mim é fácil de perceber, é tão natural compreender que possamos sentir-nos atraídos por qualquer pessoa, é exactamente o oposto das pessoas monossexuais, que têm dificuldade em conceber isto mesmo.
Eu sou bissexual, não porque gosto de homens e de mulheres, mas sim porque gosto de quem eu gosto. Seja mulher, homem, pessoa não-binária, ou de outros espectros da identidade de género.
PS: sim, estou a par que existe a “pansexualidade” mas, na minha humilde opinião, esta definição apareceu devido a bifobia, pelo que prefiro definir-me como bissexual. Também estou a par que existe o conceito “demissexual” mas, na minha humilde opinião, é um conceito estúpido e com o qual não me identifico.
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