Tiago Mota Saraiva disse ao setenta e quatro que "uma pessoa com dez ou 15 anos de idade não ocupa o mesmo espaço — o espaço simbólico dentro de uma casa — que uma pessoa de 30" e eu suspirei em anuência resignada. Estou nas vésperas do meu 28º aniversário, vivo com os meus pais e a saída aqui de casa não está para breve.
Felizmente que estes últimos dias têm trazido para o espaço mediático a questão da crise da habitação, estava a ver que nunca mais. No entanto, entre adultos obrigados a dividir casa, pessoas deslocadas em arrendamentos precários e famílias com dificuldade em pagar a actualização da prestação ao banco, ouve-se pouco as vozes dos desgraçados que vivem com os pais.
Não me interpretem mal: dou-me bem com os meus pais, poupo-me à preocupação com lides domésticas e sou, em bom português, mimada. Mas e o resto, senhores? Não pago contas mas o preço é o meu desenvolvimento pessoal e social. Os homens e mulheres vintões, trintões, obrigados a viver em casa dos pais estão condenados a viver numa adolescência perpétua que não nos permite crescer e ser adultos.
Ocupas demasiado espaço numa casa que deixa de ser tua pois não te sentes à vontade para lá viver. De repente o CC denuncia-te como cidadão que já devia ser independente, mas tens de ter atenção para não te esqueceres da toalha do banho senão a mãe ralha-te; tens de avisar onde vais sair para o pai não se preocupar; tens de te ir deitar porque "vê lá que amanhã trabalhas". Pois trabalho, mas para quê?
Dito assim parecem mesquinhices, dá vontade de rir e é ridículo. Pois é ridículo, é ridículo que um adulto que trabalhe a tempo inteiro não possa ter direito ao seu espaço e à sua privacidade doméstica. Sinto mesmo que estamos todos a passar ao lado da crise social e demográfica que esta situação de vida pode trazer. Estamos privados da linha temporal de gerações anteriores: sair de casa por volta dos 21, 22, desfrutar da tua juventude com as tuas regras, casar aos 26, ter dois filhos, divórcio aos 32.
Caramba, e nem é que eu queira isto para a minha geração. Mas quando é que vou poder viver a minha vida em vez da minha vida confinada na casa dos meus pais? Porque é que os nascidos nos anos 90 não têm direito a dispor do seu espaço para receberem amigos, conviver, aproveitarem o tempo? Porque, no final do dia, além de espaço também se trata de uma questão de tempo. Não podemos desenvolver as nossas relações afectivas, somos privados de ter uma vida sexual satisfatória, adiando para alguns a ideia de ter filhos. Pois se só temos casa depois dos 30, e depois queremos aproveitar a casa sem os filhos, com que idade é que vamos então tentar? A fertilidade não se indexa à Euribor e tenho demasiados casais amigos que desejam ser pais sem conseguirem delinear ao certo quando é que vão poder começar a pensar nisso, porque ainda vivem na casa dos pais.
Há já algum tempo que me sinto um corpo estranho aqui em casa, confinada às quatro paredes do meu quarto de infância e adolescência (e adultez), com a vida bloqueada em impasses que não consigo controlar. Ocupo demasiado espaço e não consigo crescer para lá disto. Não estou à vontade nem para sentir as minhas emoções nem lidar com os meus dias menos bons (a sério, no outro dia queria estar à secretária a chorar e a escrever e não consegui porque a minha mãe me estava sempre a entrar no quarto, epa que ridículo, por amor de Deus). Sinto-me uma criança a brincar aos adultos porque saio de manhã para "o trabalho". Não sei quem sou fora daqui e quero descobrir mas ainda tenho de esperar. Para tudo na minha vida tenho de esperar, porra.
Enfim, somos a geração da década perdida. Até quando, António Costa?
terça-feira, 21 de fevereiro de 2023
quando a tua casa se torna a casa dos teus pais
domingo, 1 de janeiro de 2023
2023
O ano que acabou ontem foi, para mim, um fechar de vários capítulos negros. Apesar do começo atribulado, ao longo de 2022 fui vendo certas problemáticas da minha vida acalmarem e a abrirem portas para novos ciclos. E eis que chego a 2023 querendo ser optimista, mas tão, tão receosa. Tento de forma racional não me embrulhar nos cenários e nos pensamentos, mas como fazê-lo quando estou, por fim, a viver algo que tanto queria? E se não dá? Mas... e se dá?
Quero encarar o novo ano como o derradeiro virar de página. Quero ter esperança de viver novas oportunidades, novas emoções e conhecer mais de mim mesma. Caramba, há tantas facetas de mim que eu nunca tive oportunidade de ver. Será agora? Enfim, time will tell.
Raios te partam, Saturno.
Não tenho resoluções. Minto, tenho uma: este ano eu quero mais prazer. Quero sentir que estou a gozar a vida. Quero comer e beber bem, ir a espetáculos, ouvir música que realmente gosto. Quero ler livros que me prendam à história e ver cinema. Quero desfrutar das companhias que elejo, quero alegria, novas aventuras e amor.
Estamos cá.
Bom 2023.
sábado, 10 de dezembro de 2022
um ano
Há dias encontrei um texto, que escrevi no meu diário, datado de 20 e poucos de Novembro de 2021. Encontrei-o porque tinha tirado uma fotografia com o meu telemóvel, para depois o ler à minha melhor amiga, e apareceu na minha aplicação de "memórias". O tema do texto ainda ressoa muito em mim passado um ano, pois, sem o saber, quase que marcava o "início do ano" daquela situação específica da minha vida. Dessa forma, passado um ano o tema continua o mesmo, embora com nuances diferentes.
Ver-me confrontada com as minhas palavras de há um ano obrigou-me a pensar no seguinte: daqui a um ano, quero estar na mesma situação? Não. Então tenho perante mim mesma esta timeframe de um ano para resolver o assunto pendente. Resolver... vá, ter outra abordagem, digamos antes assim. Mas hoje não é para escrever sobre isso.
Todo este preâmbulo serve para vir aqui falar um bocadinho sobre estes conceitos de "há um ano" e "daqui a um ano". Durante a minha crise de desemprego, eu e a minha tal melhor amiga - a Margarida - conversámos sobre este tema e de como nos parecia surreal as histórias das pessoas cuja vida muda tanto num ano. Mas pergunto-me: será que nos parece assim tão surreal porque estamos focados para pensar que a vida tem de mudar radicalmente de Dezembro de ano X para Janeiro de ano Y? Curiosamente ela também falou disso neste episódio do nosso podcast.
A verdade é que, por muito cliché fatela que isto seja, a vida é o que fazemos todos os dias. E, por muito romântica que seja a ideia de uma mudança radical quase de um dia para o outro, a minha experiência deste ano mostrou-me que as mudanças de um ano levam tempo. Levam todos os dias de todos os 12 meses em que as estamos a viver.
Há um ano, em Dezembro de 2021, depois do pior Verão-Outono que já vivi em termos de saúde mental, desempregada, sem saber para onde me virar, esgotada, etc., passei num processo de recrutamento e estava, neste momento, em formação para depois iniciar funções em Janeiro. Tive meio dia de trabalho nas funções a sério e despedi-me antes da hora de almoço. Tinha voltado ao desemprego. O meu "ano de mudança" parecia que tinha empancado, novamente. Era Janeiro, o Ano Novo, Vida Nova a acontecer, e eu a voltar atrás. Enfim, decidi-me, por uma última vez, a assumir que estava sem trabalho e que, depois de fazer os 27 anos em Março, iria dedicar-me a procurar um trabalho que realmente me fizesse sentido ter.
Ontem estive no almoço de Natal do trabalho que arranjei duas semanas depois do meu aniversário. Há um ano estava numa formação a aprender mais sobre uma empresa que desprezo, hoje estava a divertir-me a comer e a beber com colegas que só apareceram na minha vida há pouco mais de seis meses. Há um ano temia olhar para o saldo da minha conta bancária com medo das consequências de não ter salário há tanto tempo, hoje - felizmente - consegui triplicar a minha poupança tendo em vista outros objectivos que estarão para chegar.
[Há um ano vivi um episódio familiar delicado, hoje essa situação está pacificada.]
Tudo isto foi de repente? Visto assim, em jeito de timelapse e reflexão de fim de ano, parece que sim. Vejam bem o que a minha vida mudou num ano! Mas não. Foi lento, vagaroso. Entrei no trabalho e, com receio de não gostar, pedi que o contrato fosse de 6 meses em vez do proposto de 1 ano. Dei por mim no Verão num espaço mental totalmente diferente, e ainda bem para mim. O que já tinha mudado do Verão passado para este! Veio o Outono, com uma sensação de paz e estabilidade que eu nunca tinha sentido antes. Dei por mim na festa de Natal da empresa, a olhar em volta, e a desejar realmente o que diz a frase barata dos brindes: que dali a um ano estivéssemos todos lá.
Então, quando deres por ti num ponto da tua vida que parece estagnado, em que não saibas para onde te virar, e estiveres com medo de pensar onde estarás "daqui a um ano" porque não há mudança nenhuma acontecer, lembra-te que as mudanças podem ser lentas. É dia a dia, semana a semana, mês a mês. Há contratempos. Vai com calma, tenta dar os passos que sentes serem os correctos mesmo que nunca antes tivesses pensado em tomá-los, e sê paciente contigo. Vais ver que olhas para trás e te espantas com o tanto que a tua vida afinal mudou num ano.
segunda-feira, 28 de novembro de 2022
Music Monday
sábado, 19 de novembro de 2022
Lista para o Pai Natal
Tendo em conta as desgraças que se estão a passar no mundo (o Twitter estar em histeria colectiva sobre ir "acabar"), e uma vez que ando cheia de saudades de bloggar à moda antiga, talvez seja boa ideia começar de uma vez. E nada grita mais blog-dos-anos-2000-2010s do que fazer uma lista de prendas de Natal que uma 'ssoa não se importava nada de receber, maneiras que vamos lá...
Querido Pai Natal, olha que eu este ano me portei tão bem, não me digas que eu não merecia ter estas prendinhas todas no sapatinho.
A trilogia d'O Senhor dos Anéis. Já vi e revi os filmes, está na hora de ler os livros de uma vez.
Um Ligh Blue da Dolce&Gabbana porque o meu perfume do dia-a-dia está a acabar e estou curiosa para cheirar este...
...mas já que ando numa de honrar a minha adolescente interior, também não me importo de voltar ao meu perfume de teen.
Um cardigan da Dita von Teese em vermelhão, claro.
Preciso urgentemente de umas botas da tropa novas porque as minhas já estão prontas para entrar na reserva.
Um iPad. Oh, mas porque é que eu tive de nascer bonita em vez de rica?! O quanto que eu quero um iPad na minha vida.
A escova Wet Detanglet da Tangle Teezer porque quero experimentar finalizar o meu cabelo com uma destas. Talvez experimente a dupe da Primark.
O meu bullet journal está a acabar, maneiras que um novo também era um presente bem-vindo.
Bilhetes para o concerto do Jamie Cullum, que eu quero vê-lo ao vivo há muiiiito tempo.
Pronto, estão a ver? Tenho algumas extravagâncias caprichosas, mas estão aqui muitas coisas perfeitamente banais e normais de se oferecer. Depois venham cá dizer que o Natal só é fixe para os putos. O problema é que para a maior parte das coisas eu é que tenho de ser o meu próprio pai natal e sou POBRE. Enfim!!
Feliz Natal, tá aí a época! =)