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domingo, 10 de abril de 2022

Reflexão pós dois anos de crise de vida

Imagem perdida algures pelo meu Pinterest

Estes últimos dois anos foram terríveis para mim. Lembro-me quando, com 22 ou 23, já lia artigos sobre a famosa crise do quarto de idade e achava "nem preciso de chegar aos 25, já estou em crise agora". Ai, menina... mal sabias tu!!!

Fiz 25 anos nas vésperas de entrarmos todos no primeiro confinamento, em Março de 2020. No final de Abril, o meu contrato de trabalho não foi renovado e vim para o desemprego. Estava burned out, cansada de trabalhar em agências de comunicação e em marketing digital, tinha acabado de ficar viral na minha página sobre Astrologia e pensei que esse seria um bom caminho para mim. Embora aos olhos de toda a gente eu estivesse "sem trabalhar", a verdade é que estava a gerir a full time uma página de Instagram e a tentar fazer um negócio dali. Tinha de pensar em estratégia, ter ideias, escrever conteúdo e publicar. Comecei a ler mapas astrais para ter algum pocket money. Inundei-me de ideias que queria implementar, descobri que tenho Síndrome do Impostor e do Bom Aluno, mas também tive de lidar com o facto de estar a estagnar apesar de o meu conteúdo ter valor. No meio disto tudo, passei por crises familiares que me deitaram muito abaixo (já está tudo bem, felizmente).

O resultado foi que acabei burned out da Astrologia. Cheguei a escrever sobre isso aqui, num princípio de crise no início do ano, que chegou depois em força no final de Maio/início de Junho, já em 2021. Ou seja, depois de um ano a tentar ser "empreendedora" no digital. Não tenho palavras para descrever o mal que passei nesse Verão, nem sei como encontrei forças para nunca me ir realmente abaixo. Sentia-me perdida, sem rumo na vida, não me apetecia fazer nada. Não queria procurar trabalho, dava-me ansiedade só de pensar nessa hipótese, na ideia de voltar à Comunicação. Entretanto, fui percebendo qual seria a melhor hipótese para mim, e estou a caminhar para lá.

Enquanto fui tendo essas crises, fazia algumas formações do IEFP, que sempre acrescentavam uns trocos à minha carteira. Acabei por me inscrever numa formação de Ux/Ui, para estar entretida já no Outono. Bom... a formação não me fascinou ao ponto de eu começar a procurar trabalho de forma mais séria. Acabei por entrar num processo de recrutamento e cheguei a ser contratada para a Teleperformance. Fiz as três semanas de formação e despedi-me a meio do primeiro dia de trabalho, depois de ter um ataque de pânico (?). Não é algo que vá explorar neste texto, portanto sigamos em frente.

Janeiro foi um mês horrível, também. Lembram-se de que a única alegria que tive foi descobrir a série Search Party? Mas pronto, permiti-me viver isso. Veio Fevereiro, veio Março e fiz 27 anos. Decidi-me, novamente, a tentar procurar trabalho. Algo perto de casa, mais administrativo, enfim. Parecia-me impossível, porque já tinha tentado tantas vezes sem nunca obter respostas. Mas não é que me responderam? E fui à entrevista e fui a escolhida? Então cá estamos. É Abril, encontrei trabalho e, até agora, está tudo a correr bem. Este texto também não é para aprofundar isso.

Durante as minhas crises existenciais sempre pensei que, quando encontrasse trabalho e voltasse a ter alguma paz de espírito (não estar sempre a pensar "oh meu deus estou desempregada sou inútil a minha vida é uma merda não sei o que fazer" em loop), iria voltar para a página da Astrologia. A verdade é que eu ainda não tive vontade de voltar... nem sei se vou ter tão cedo. E estava a sentir-me culpada por causa disso, como se estivesse a falhar comigo mesma e com aquela Arte que tanto me fascinava. Como assim, não estou cheia de ideias para a página? Mesmo que não vá já escrever mapas, ao menos podia fazer uns posts, não? Epa, não...

Há uns dias encontrei um TikTok no qual uma mulher dizia que, quando estamos finalmente a ficar curados de uma crise, parece que deixamos de ter interesse ou "motivação" para fazer as coisas que antes fazíamos. E ela explicou que isso acontece porque, antes, o nosso corpo estava a operar com o instinto de luta/fuga. A motivação vinha daí, porque queremos fugir da realidade, e não porque queremos genuinamente fazer algo. Isto bateu-me que nem a wrecking ball da Miley Cyrus de 2013. A verdade é que eu comecei a página ainda em 2019, logo após ter feito o curso de Astrologia, para tentar ser Astróloga e poder fugir aos trabalhos de merda que tive. Dei ghost na página poucos posts depois de a começar e só voltei UM ANO DEPOIS.

Em 2020, ainda antes da crise Covid, foi quando voltei a ter energia para fazer conteúdos para a página. Tive um boom de seguidores com uns memes parvos sobre a quarentena e, visto que ia ficar desempregada de outro trabalho de merda, voltei a olhar para isto como uma fuga ao que tinha sido a minha experiência profissional. Então, algo que tinha voltado de forma orgânica à minha vida, acabou mais uma vez por ser a "fuga" à realidade que eu não suportava.

O que me está a acontecer agora é que já não tenho vontade de fugir. Além de estar burned out da Astrologia, não quero já escapar da realidade. Quero aceitá-la e vivê-la, pois demorei dois anos a perceber o que queria, e agora posso experimentar de forma consciente a minha decisão. Agora posso esperar que a motivação para a Astrologia venha de um lugar genuíno e não do meu instinto de fuga. E, se não fosse aquele TikTok aleatório, não teria encontrado uma explicação lógica para o que estava a sentir.

Isto foi muito útil para mim devido, igualmente, a uns comentários que tenho vindo a receber. Quando começo a contar a alguém que arranjei este trabalho, as pessoas acabam por dizer, com a melhor das intenções, coisas do género: "agora estás descansada até encontrares o que realmente queres" ou "é bom para agora, para ires trabalhando nos teus sonhos". Frases sem maldade, encorajadoras. Mas que me fazem sentir mal comigo própria porque, honestamente, eu não sei que sonhos tenho. Sinto que esta crise de dois anos me trouxe isso: se calhar eu não me conheço assim tão bem. Não tenho nada que me faça ter vontade de ir e trabalhar e construir. Acham que o meu sonho era ser Astróloga? Não é... Nunca foi, nunca tinha pensado nisso. Eu não sei qual é o meu sonho porque sinto que, durante toda a minha adolescência e início de vida adulta, eu andei a tentar encaixar na narrativa da mulher de carreira em vez de me conectar com a minha verdade.

Estes pensamentos andavam a minar a minha cabeça, ultimamente, mas de forma bastante subtil. Só hoje me apercebi disso, quando parei para escrever uma reflexão sobre as minhas duas primeiras semanas no trabalho novo. Eu estou, só agora, a sentir-me quase curada desta profunda crise de vida. Por enquanto eu só quero aproveitar essa sensação de leveza. Quero desfrutar da rotina nova e estou em pulgas para começar no Yoga. Por agora, é isso que eu "realmente quero" e é esse o "meu sonho": ir, de uma vez por todas, ter aulas de Yoga. Algo que eu quero há anos. Há precisamente sete anos, quando estava no meu segundo ano de ESCS. Um dos anos mais difíceis da minha vida, com outras crises, mas onde quase percebi realmente do que gosto, de quem sou, e o que quero. É um período da minha vida que merece mais reflexão, pelo menos ando a sentir que preciso de trabalhar nesse sentido. Só que isso fica para outra ocasião, fora daqui.

Por enquanto é só isto. Quero estar calma e em paz comigo mesma. Passei muito mal para chegar até aqui, não quero já entrar no modo de fuga, agarrando-me a projectos esgotantes que trazem só aquela high de adrenalina mas que, no fundo, não me preenchem. Não, eu agora quero realmente sentir-me motivada, interessada e apaixonada por algo. E isso só pode acontecer se eu partir de um ponto saudável, porque a outra experiência já vivi. Então vou-me permitir a estar sossegada, sem me forçar a nada que não me faça sentir bem. Quero motivação genuína e vontade de fazer as coisas por mim. Quero estar no momento presente.

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